Grupo Hídrica

mariana desastre samarco

A ruptura das barragens da exploração mineral da Samarco (controlada pela Vale/BHP Billiton) e a devastação social e ambiental provocada pela avalanche de lama e rejeitos ocupa os noticiários do Brasil e do mundo desde o fatídico 5 de novembro.
A barragem Fundão tinha capacidade para estocar 60 milhões de metros cúbicos de rejeitos da exploração mineral e estava preenchida com 55 milhões de toneladas; e a barragem de Santarém estava no limite da sua capacidade de 7 milhões de metros cúbicos.
A onda de lama e rejeitos destruiu povoados inteiros atingindo casas, plantações, patrimônio cultural, provocando mortes de trabalhadores, moradores locais, fauna e flora.
Esse, que já é considerado o maior crime socioambiental no Brasil, deixou 16 mortos identificados e estima-se que pode haver mais corpos sob a lama. Oficialmente, fala-se (até o momento) em 4 desaparecidos.
O pequeno povoado de Bento Rodrigues, com seus 612 habitantes, completamente arruinado, ficou marcado como a imagem desesperadora da destruição.
Lama, rejeitos e água das barragens – contaminados, segundo técnicos e especialistas – seguiram avançando pelo Rio Gualaxo, atingiram o município de Barra Longa, a 60 km de Mariana, avançaram pelo Rio Doce e passaram por mais de quinze municípios, entre Minas Gerais e Espírito Santo, deixando um rastro de muita sujeira, peixes e animais mortos, calamidade devido à interrupção forçada do fornecimento de água em vários municípios durante muitos dias sob risco de contaminações.
A lama chegou à costa capixaba provocando uma mancha escura e densa no mar.

Especialistas alertam para o risco a médio e longo prazo: a inevitável mortandade em massa do fitoplancton e zooplancton, base da cadeia alimentar oceânica, que trará efeitos desastrosos, impactando todo o ecossistema.
Nós, do Grupo Hídrica, nos somamos à dor das famílias que perderam seus entes queridos nesse desastre, os desabrigados, feridos e traumatizados. Nos solidarizamos com aqueles que esperam e que se empenham para que tudo seja apurado, que os responsáveis assumam o ônus de toda essa tragédia e para que essas famílias atingidas reconstruam suas vidas com dignidade e o respeito que merecem.
Também acompanhamos com grande preocupação todos os desdobramentos da ruptura das barragens, sobretudo seus impactos nas nascentes, córregos e rios. A água, esse elemento vital, desde a barragem até o mar, está seriamente comprometida.
Nenhuma medida emergencial para tentar conter minimamente a destruição causada pela ruptura das barragens comprovou eficácia. Nem as boias de contenção, instaladas às margens do Rio Doce para proteger a vegetação na foz, ou as barreiras para tentar evitar que a água avançasse no mar do Espírito Santo, puderam impedir que a lama e os rejeitos avançassem .

É possível recuperar?

Ainda é cedo para se falar sobre o alcance da destruição, pois os efeitos e o próprio avanço da lama e rejeitos ainda está em pleno curso. Os reflexos imediatos mostram que a situação é grave, e pode piorar.
“O conjunto de seres vivos vai estar todo ameaçado e vários desses organismos vão desaparecer, ainda que, vamos esperar, seja localmente. Eventualmente, alguns desses organismos podem ter a chance de voltarem a colonizar essas áreas. Para que isso aconteça, vai precisar de tempo. No entanto, outros organismos não vão ter a chance de colonizar, porque requer um tempo muito mais longo para que as cadeias alimentares se restabeleçam” – é a opinião do professor do ICB da UFMG, Francisco Barbosa.
Em análise laboratorial, foram detectadas diversas partículas de metais pesados como chumbo, alumínio e bário nas águas dos rios afetados pelos rejeitos e lama. Alexandre Sylvio Vieira da Costa, engenheiro agrônomo e professor adjunto da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri explica que – “A presença desses materiais na água em valores acima dos permitidos pela legislação impedem a captação para abastecimento público. Em duas, das centenas de análises realizadas pelo Instituto de Gestão das Águas de Minas, ao longo do rio, na parte mineira, foram encontradas concentrações acima dos níveis permitidos pela legislação. As demais análises, realizadas nos mesmos locais, não detectaram mais esses elementos em tais níveis”.
Mas, “a natureza é muito mais forte do que podemos imaginar. Com o passar do tempo e muito lentamente os rios vão se recuperando.”, afirmou, em entrevista o coordenador do Centro de Pesquisas Hidráulicas, Carlos Barreira Martinez. Ele destaca que esse processo de recuperação pode levar décadas. Para isso, é preciso que a ação da chuva e dos outros elementos faça com que a lama dilua e escorra para outras áreas.
E se esse prazo é longo nos rios, no mar poderá levar muito mais décadas, uma vez que o destino dos rejeitos e lama, diluídos pelas chuvas e arrastados pelas correntezas dos rios, são os oceanos.
Nós, do Grupo Hídrica, vemos esse quadro com grande preocupação.
É tempo (ainda que tardio), de as mineradoras e governos estabelecerem (e cumprirem) as normas de segurança, licenciamento ambiental, prevenção de desastres como esse, os critérios para exploração mineral em nosso país e os impactos que isso causa nas populações. O lucro bilionário das mineradoras e os dividendos que essa exploração rende aos governos, e que deve retornar a população, devem ser empregados integralmente e muito mais do que vem sendo atualmente.
Será um grande desafio para os pesquisadores e empresas como a nossa, que buscam soluções para o tratamento da água e seu uso social, pensar medidas que contribuam para amenizar (a princípio) e recuperar, em médio e longo prazo, o Rio Doce e seus afluentes, os córregos e nascentes afetados, e o oceano, que também sofrerá terrivelmente as consequências desse desastre.

O Grupo Hídrica se compromete com a conscientização e responsabilidade das indústrias perante a sociedade. Saiba mais sobre o nosso trabalho em http://grupohidrica.com,br.