Por: Grupo Hídrica

As chuvas abundantes que atingiram diversas regiões a partir de novembro do ano passado, até o mês de março, elevaram substancialmente os níveis dos reservatórios que abastecem regiões onde a situação estava alarmante. Nas regiões metropolitanas de São Paulo e Belo Horizonte, por exemplo, faltou água nas torneiras de milhares de famílias.
A iminência de uma catástrofe hídrica, que ocupou as manchetes dos principais jornais no ano de 2015 foi sendo substituída pelas notícias sobre a saída do volume morto dos reservatórios e, como não poderia deixar de ser, a crise econômica e política no país.
Mas serão a crise hídrica e suas causas e consequências “águas passadas”?
A redução do racionamento de água nos centros metropolitanos não pode ser equivocadamente interpretada nem apressadamente comemorada.
O cidadão comum – maioria das famílias brasileiras -, de um modo geral, reduziu o consumo de água através da pressão das multas e aumento das tarifas e foi, talvez, a parcela da sociedade que mais se mobilizou e demonstrou conscientização perante a fase mais aguda da crise de abastecimento. Foi, também, quem mais sofreu com a falta d’água nas torneiras das capitais metropolitanas.
Apesar desse alto custo, acreditamos que o debate gerado na sociedade contribuiu para uma maior consciência sobre o problema, consciência demonstrada até mesmo por setores pequenos e médios industriais, que desenvolveram medidas novas para o reuso e economia da água. O mesmo, em termos de economia, não podem ainda ser apontados em setores como a grande indústria e o agronegócio.
O gerente nacional de água da organização sem fins lucrativos de conservação ambiental The Nature Conservancy (TNC Brasil), Samuel Barrêto, destacou em entrevista recente, concedida à vários meios de comunicação, que São Paulo não atravessa atualmente o auge da crise, mas defendeu que a situação está longe de ser superada.
Se em partes a chuva acelerou a recuperação das represas e, em março, o volume de água armazenado nos sistemas que abastecem a grande São Paulo tenha ultrapassado o nível do início da crise hídrica, devemos lembrar que no mesmo período de 2012, antes da crise, o maior reservatório de São Paulo operava com 74,8%. Atualmente, está em 63,5%, mas ainda considera duas cotas do chamado volume morto no cálculo.
O volume morto, reserva com 480 bilhões de litros de água situada abaixo das comportas das represas do Cantareira, jamais havia sido utilizado até maio de 2014, quando bombas flutuantes foram inauguradas para a captação da primeira cota da reserva. Portanto, estamos falando aqui de utilização abaixo dos níveis considerados mínimos para o abastecimento.
Em Minas Gerais, há um ano, o nível dos reservatórios do sistema Paraopeba estava em menos de um terço da capacidade, o que levou a Copasa, Companhia de Saneamento de MG, a empreender em uma campanha para que os consumidores reduzissem 30% do consumo de água nas residências. Atualmente, o nível dos reservatórios subiu de 30,2% para 49,8%, pouco mais da metade do nível de três anos atrás, quando ultrapassavam os 90%.

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No semiárido norte de Minas e Jequitinhonha, a situação é grave e muitos pequenos produtores já perderam toda a lavoura. As chuvas mais concentradas do início do ano não foram suficientes para que as roças que abastecem a maioria das mesas prosperassem.
Apesar da melhora nos níveis dos reservatórios, a situação não pode ser tomada como resolvida. É preciso avançar no debate com a sociedade, setores produtivos e setores preocupados com a gestão dos recursos hídricos para que se pense e estruture soluções à longo prazo, para não só manter as reservas, mas atacar nas causas da diminuição dos seus níveis.
Isso passa pelo cuidado com as nascentes, córregos, matas ciliares, recuperação dos nossos rios, devido tratamento da água utilizada pela indústria, do sistema de esgoto urbano etc.
Deve-se debater não somente o problema da água, mas o conceito de Nação que construímos e pretendemos para as gerações futuras.